segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira

domingo, 28 de dezembro de 2008

Australia

Eu fui ver ontem e podia dizer que fiquei com vontade de apanhar um avião para a Austrália, ou que o filme faz jus aos grandes amores dos filmes antigos de que tanto gosto, ou até dizer que vale mesmo a pena ir ver e que mal posso esperar por ter o DVD, mas vou limitar-me a duas palavras:


Hugh. Jackman.*
*Ontem percebi o porquê de o George Clooney ter perdido o primeiro lugar de Sexiest Man Alive para ele...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Já começou o Natal

"Já começou o Natal. As ruas e as montras estão decoradas, os catálogos de compras multiplicam-se, fazem-se listas, planos, combinações. Acima de tudo, aumentam a azáfama e as compras. A balbúrdia é grande, mas todos, até os mais empedernidos, sentem a necessidade de se sentirem bem-dispostos e serem simpáticos para com os outros. Já começou o Natal.
Cheira-se no ar aquele ambiente estranho, surpreendentemente confortável e doce. Vêm à memória momentos da infância. Este ano é outra vez Natal. Reaparecem símbolos inusitados e anacrónicos. Sinos, azevinho, trenós, bonecos de neve, estrelas, estábulos. Já ninguém sabe exactamente o que querem dizer e soam a estranho na nossa sociedade electrónica. Mas é isso que constitui o espírito de Natal. A actividade económica e a problemática sócio-política têm de se preparar de novo. Já começou o Natal.
No meio de tanta confusão, passa um burrinho com uma Senhora grávida em cima e o marido ao lado. Naturalmente, hoje como em todos os anos dos últimos dois mil, poucos lhe ligam. Já começou o Natal e estamos demasiado ocupados em todas as preparações para lhes dar atenção. Não há lugar para eles nesta nossa intensa actividade. Temos de decorar ruas e montras, ler os catálogos de compras, fazer listas, planos, combinações. Afinal é Natal, a época menos adequada para estes estranhos nos virem perturbar.
Mas hoje, como em todos os anos dos últimos dois mil, o Menino insiste em nascer. Perante o nosso alheamento e indiferença, Ele insiste em nascer. A actividade económica e a problemática sócio-política não têm lugar para Ele. As nossas tarefas familiares e ocupações profissionais não permitem que lhe liguemos. Mas Ele insiste sempre em nascer. Nem que seja num estábulo. Num estábulo vazio e frio, o único sítio da cidade que tem lugar para Ele. Era suposto o estábulo estar vazio. Há tanto a fazer no Natal, há tanta actividade na cidade, que ninguém tem tempo para ir ao estábulo vazio e frio. Só por isso é que há ali lugar para Ele. Só por isso é que o Menino conseguiu nascer. Mas depois, surpreendentemente, aquele estábulo fica cheio de gente.
Os pastores e os magos visitam o Menino. Eles sabiam que o Menino viria. Eles tinham começado o Advento, depois da festa do Cristo-Rei. Tinham iniciado o ano litúrgico e seguido as várias semanas de preparação para a chegada do Menino. Vão à missa, rezam o Terço, confessam-se, acompanham a liturgia festiva desta época incomparável do ciclo anual. Desta forma é que conseguiram ouvir a mensagem do Anjo e seguir a estrela até ao Presépio. Desta forma é que foram ouvindo “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2, 14).
Claro que os pastores e os magos também estão muito atarefados na azáfama geral. Afinal, já começou o Natal é há muito a fazer. Também eles fazem listas, planos, combinações. Também eles aumentam o bulício e as compras. Mas fazem-no acompanhando a viagem do burrinho com a Senhora grávida e o marido ao lado. Fazem-no para festejar o nascimento do Menino. Fazem-no para nascer de novo, com o Menino. E só assim é que é possível a presença do Menino nas festas de Natal deste ano. Só através de todos os que se ocuparam intensamente nessas festas, mas a pensar no Menino. Por causa do Menino.
Aliás, são os pastores e os magos que, mais do que ninguém, cheiram no ar aquele ambiente estranho, surpreendentemente confortável e doce. São eles que revivem na memória momentos da infância, da juventude, da velhice. Momentos em que foi, mais uma vez e sempre, Natal. São eles que, no meio da azáfama, entendem os símbolos, os sinos, o azevinho, os trenós, os bonecos de neve, a Estrela, o Estábulo. São eles os únicos que sabem exactamente o que querem dizer os símbolos e como eles se enquadram estranhamente em todas os séculos, até na nossa sociedade electrónica. São eles que vivem o verdadeiro espírito de Natal.
Aquele espírito que todos sentem, mesmo no meio da azáfama. Porque todos vivem o espírito de Natal, aquela necessidade estranha de se sentir bem-disposto e ser simpático para com os outros. Mas o único espírito de Natal que existe vem daqui. Aquele espírito que todos, até os mais empedernidos sentem, vem daqui. Não há outra fonte do espírito de Natal senão o nascimento do Menino. E este espírito só se pode entender seguindo o Advento, as várias semanas de preparação, indo à Missa, rezando o Terço, confessando-se, acompanhando a liturgia festiva desta época incomparável do ciclo anual. Todos, mesmo os mais empedernidos, é daqui, mesmo sem o saberem, que recebem este espírito único, aquele ambiente estranho, surpreendentemente confortável e doce. Neste ano vai nascer o Menino.
Neste ano, apesar das nossa azáfama, conscientes ou inconscientes, vai nascer o Menino. Quem O traz, em cima do burrinho e ao lado do marido, é a Senhora. E a Senhora chama-se Igreja. Já começou o Natal."

2002-11-27
João César das Neves
O texto, claramente, não é meu, mas sim do Professor da UCP João César das Neves. É daquelas pessoas que às vezes gosta de ser um bocado inconveniente e escrever sobre aquilo em que acredita. A meu ver, ainda bem! Muito me ajuda a explicar o que é o Natal, esta festa de aniversário que é mais importante que todas as outras. Não me alongo porque o texto do Professor diz muito melhor o que quero dizer do que qualquer coisa que eu escrevesse aqui. Para quem tiver paciência e um bocadinho de boa-vontade, leia. Eu só quis partilhar aqui com vocês a maneira como eu vejo, e vivo, esta época, que é a mais bela de todas!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Estado de espírito*

Estou além
Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P’ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só...


Quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P’ra outro lugar

Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar
Porque até aqui eu só...


Estou bem
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou


António Variações
* meu e teu, S.!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Quarto minguante

Ser mulher tem destas coisas. Há dias em que não nos controlamos e a palavra razão deixa de fazer parte do nosso vocabulário... Ficamos com lágrimas nos olhos com o anúncio da Channel (Santoro, a quanto obrigas...), temos necessidades súbitas de comidas que tinhamos prometido nem chegar perto, o chocolate passa a ter um efeito medicinal, quase sobrenatural, a que não podemos resistir, as músicas que ouvimos completam o estado de espírito melancólico que, se nos perguntam a que se deve, só tem uma explicação: malditas hormonas! Toca a todas... Depende da altura do mês, da estação do ano, do momento do dia, do tempo que faz... Gosto de pensar que isto acontece por estarmos tão intimamente ligadas à Mãe Natureza, o que nos faz, umas vezes mais que outras, andar ao sabor dos instintos... Ficamos com os sentidos à flor da pele e sentimos como sendo nossas as variações de humor que nos rodeiam. Hoje deu-me para isto e fiz a única coisa que podemos fazer nestas ocasiões: rendi-me! Tenho como banda sonora o "You belong to me" da Patsy Cline e o "For once in my life" da Vonda Shepard, já revi inúmeras cenas das minhas séries preferidas e andei a afogar mágoas em gomas... Quem sabe mais tarde até me aventure numa sessão de compras para completar o cenário (algo decadente, convenhamos...) que tenho certeza que me vão animar... ;p Eventualmente volta tudo ao normal e voltamos a ser nós próprias, não é? Só resta esperar que a nossa própria lua volte a mudar de fase...