quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Perfect match




Eu e a Carolina (com as letras todas) temos uma relação que eu sempre considerei basear-se na nossa enorme compatibilidade. Não somos iguais, como às vezes nos sentimos com algumas pessoas. Somos o que somos porque ela é loira e eu sou morena. Porque ela toca clarinete e eu toco flauta. Porque ela é das Artes e eu sou das Letras. Porque não temos o mesmo nome mas os nossos nomes partilham sons, sílabas tónicas e diminutivos pirosos. Não somos opostos, antes completamo-nos.
Precisamente por caminharmos tão bem juntas é que os nossos caminhos têm seguido assim, lado a lado e com frequentes cruzamentos. Por isso mesmo agora decidimos dar outro passo na nossa relação: vamos juntar os trapinhos! E por trapinhos entenda-se o "rosinha", que vai entrar numa nova fase da sua curta vida. Como por aqui somos grandes apologistas da filosofia de que devemos receber a mudança de braços abertos, decidimos evoluir! A partir de hoje eu e a Carolina damos início a mais uma das tantas parcerias que temos. Ela passa a tratar da parte gráfica do "belogue" e eu trato dos escritos... E, como em todas as uniões de sucesso (como é o caso da nossa!), todos ganhamos com isso! Por isso obrigada Carô, por tornares o meu blog simplesmente ÚNICO!

domingo, 19 de outubro de 2008

"Meu amor querido

Adoro-te minha gata de Janeiro meu amor minha gazela meu miosótis minha estrela aldebaran minha amante minha Via Láctea minha filha minha mãe minha esposa minha margarida meu gerânio minha princesa aristocrática minha preta minha branca minha chinezinha minha Paulina Bonaparte minha história de fadas minha Ariana minha heroína de Racine minha ternura meu gosto de luar meu Paris minha fita de cor meu vício secreto minha torre de andorinhas três horas da manhã minha melancolia minha polpa de fruto meu diamante meu sol meu copo de água minha Escadinhas da Saudade minha morfina ópio cocaína minha ferida aberta minha extensão polar minha floresta meu fogo minha única alegria minha América e meu Brasil minha vela acesa minha candeia minha casa meu lugar habitável minha mesa posta minha toalha de linho minha cobra minha figura de andor meu anjo de Boticelli meu mar meu feriado meu domingo de Ramos meu Setembro de vindimas meu moinho no monte meu vento norte meu sábado à noite meu diário minha história de quadradinhos meu recife de Manuel Bandeira minha Passargada meu templo grego minha colina meu verso de Hölderlin meu gerânio meus olhos grandes de noite minha linda boca macia dupla como uma concha fechada meus seios suaves e carnudos meu enxuto ventre liso minhas pernas nervosas minhas unhas polidas meu longo pescoço vivo e ágil minhas palavras segredadas meu vaso etrusco minha sala de castelo espelhada meu jardim minha excitação de risos minha doce forquilha de coxas minha eterna adolescente minha pedra brunida meu pássaro no mais alto ramo da tarde meu voo de asas minha ânfora meu pão-de-ló minha estrada minha praia de Agosto minha luz caiada meu muro meu soluço de fonte meu lago minha Penélope meu jovem rio selvagem meu crepúsculo minha aurora entre ruínas minha Grécia minha maré cheia minha muralha contra as ondas meu véu de noiva minha cintura meu pequenino queixo zangado minha transparência de tules minha taça de oiro minha Ofélia meu lírio meu perfume de terra meu corpo gémeo meu navio de partir minha cidade meus dentes ferozmente brancos minhas mãos sombrias minha torre de Belém meu Nilo meu Ganges meu templo hindu minha areia entre os dedos minha aurora minha harpa meu arbusto de sons meu país minha ilha minha porta para o mar meu mangerico meu cravo de papel minha Madragoa minha morte de amor minha Ana Karénine minha lâmpada de aladino minha mulher"

D'este viver aqui neste papel descripto,
António Lobo Antunes
Esta declaração de amor é avassaladora por vários motivos... Pela escrita, que é tão simples e ao mesmo tão complexa, como só o Lobo Antunes sabe fazer. Pela dimensão, porque fala de um amor enorme, profundo, infinito. E acima de tudo, pela veracidade. Porque esta carta não é fruto de uma imaginação mais romântica, de um momento de inspiração aleatório do escritor. Estas palavras são verdadeiramente belas porque ele as escreveu para ela. Porque ele existe e ela existiu. Mesmo! Por isso, esta palavras imortalizadas em papel, são a prova de que é possível amar assim...
Todo este livro é uma carta de amor... Que dura meses e sufocos, mas é constante no sentimento que abarca em cada página.

sábado, 18 de outubro de 2008

Eu vou, eu vou! Deolinda ver eu vou!
Para tchi-pum! Para tchi-pum!
Eu vou! Eu vou, eu vou, eu vou!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O essencial e o acessório

De todos os rótulos que posso ter (e tenho-os!) acho que o mais óbvio e permanente-até-um-dia é o de estudante. Os outros que tenho são-no, na maioria, por escolha própria e mais recentes. O de estudante é um dado adquirido! Faz parte de mim, quase como o de ser irmã mais nova. Enfim, tudo isto para dizer que sou Estudante. Ponto. Mas tenho uma confissão a fazer. Quando os meus colegas me pedem apontamentos e eu digo que não tenho? Pooois... Não estou a ser egoísta, a sério... É mesmo porque não tenho. Um caderno chega-me para um ano lectivo inteiro e ainda me sobram folhas. Se fosse mesmo poupadinha era capaz de fazer render um caderno para a licenciatura toda... Sou mesmo má a tirar apontamentos (acho que se deve ao facto de também não ser muito boa a distinguir o que é essencial do que é acessório... Pode ser muito confuso).
Ora hoje, durante uma aula, escrevinhei qualquer coisinha aqui pelo caderno (wow) e agora que estava a passar os olhos pelo caderno (WOW) reparei numa coisa que um professor disse e passo a citar:


Interdependência
  • não posso fazer uma coisa sozinho e melhor do que se a fizesse em cooperação;


  • nenhum de nós pode fazer uma acção sem que isso produza efeitos nos outros.


Isto deixou-me a pensar... Não na matéria, como era suposto, mas na verdade que encerra. Nós precisamos uns dos outros. Não é apenas querer, não é apenas gostar... É necessidade. Mais que dependentes, somos realmente interdependentes porque também somos "dependidos". É verdade que esta relação nem sempre é equilibrada e é aí que surgem os nossos choques. Porque somos muitos e andamos a passear pela vida uns dos outros, a entrar e a sair, a testar fronteiras e a criar laços. De dependência, porque há sempre qualquer coisa que fica. E acabamos profundamente enredados uns nos outros... Isto, meus caros (ou Luís Carlos, como preferirem...), parece-me profundamente essencial. Por isso dou-me por satisfeita e, se só conseguir voltar a tirar um apontamento decente daqui a algum tempo, nem me vou preocupar...